'Um Lugar Silencioso' quer enfrentar a crise do cinema com a tara pela catástrofe
Por Leonardo Sanchez/Folhapress em 26/06/2024 às 09:21
Hollywood vem tendo dificuldade para alçar novas franquias ao topo das bilheterias. Por isso, quando uma ideia emplaca, é preciso aproveitar o momento. Com isso em mente, a Paramount não apenas deu sequência a “Um Lugar Silencioso”, como voltou às origens do terror que foi sensação em 2018.
Com a estreia de “Um Lugar Silencioso: Dia Um” nesta semana, a franquia soma, em apenas seis anos, três longas -o original, uma continuação e uma prequela. É uma prova de que a indústria quer se agarrar a sucessos comprovados, mas também de que é preciso investir em novas ideias e talentos.
John Krasinski, afinal, não era muito mais do que o mocinho da comédia “The Office” quando ofereceu ao estúdio a história mirabolante sobre uma invasão alienígena. Concebida por Scott Beck e Bryan Woods, por sua vez ilustres desconhecidos, a ideia foi abraçada pelo ator, que garantiu os US$ 17 milhões de orçamento.
“Um Lugar Silencioso” acabaria arrecadando US$ 341 milhões e seria eleito pelo Instituto Americano de Cinema um dos dez melhores filmes de 2018. As portas se abriram, e agora “Dia Um” recicla o universo de sucesso apresentando ao público novos personagens e com um orçamento que foi a US$ 67 milhões.
“Podemos continuar contando histórias neste universo para sempre, porque catástrofes afetam milhões de pessoas, e cada um lida com elas de forma muito particular”, diz Lupita Nyong’o, que assume o bastão de protagonista, pertencente a Emily Blunt no primeiro e no segundo filme, neste novo capítulo.
Enquanto “Um Lugar Silencioso” acompanhava uma família vivendo há anos sob uma invasão alienígena, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” retorna ao momento exato em que as criaturas desembarcam na Terra.
E se antes o filme começava em silêncio, já que os personagens foram obrigados a se comunicar em língua de sinais para não atrair os extraterrestres, que caçam usando a audição, agora as sirenes, buzinas e gritaria de Nova York dificultam os planos dos sobreviventes.
“Imagine pedir para uma das cidades mais barulhentas e movimentadas do mundo para ficar quieta?”, diz Nyong’o, que interpreta uma das nova-iorquinas forçadas a fazer voto de silêncio. Ela já tinha experiência em se adaptar a realidades catastróficas, porém.
Vencedora do Oscar por “12 Anos de Escravidão”, a atriz tem uma relação simbiótica com os filmes de gênero e já testemunhou o colapso da nossa sociedade em “Pequenos Monstros”, sobre uma invasão zumbi, “Nós”, em que fugiu de sua “doppelgänger” assassina, e até “Star Wars”, em que a galáxia é ameaçada por um império maléfico e extremista.
Para ela, o interesse do público por tramas do tipo sempre foi uma constante no cinema, mas se fortaleceu depois da pandemia de Covid-19. O impossível aconteceu em 2020, diz, e o que antes era fascínio pelo desconhecido virou uma preocupação real, alimentando o ciclo do subgênero de catástrofe.
“Nós ainda vivemos um choque coletivo, continuamos assombrados pelos fantasmas da pandemia. Vivemos uma situação que nos fez ver o que há por baixo da sociedade que construímos e nos desapontamos”, diz Joseph Quinn, que foge dos alienígenas ao lado de Nyong’o.
“Percebemos o quão fraca é a estrutura que fundamenta a nossa sociedade, em especial no meu país -e sei que no Brasil foi assim também-, então o fascínio vem por esse interesse em perceber o quão frágil nosso mundo realmente é”, acrescenta o britânico.
Ele, também, recicla as habilidades de luta contra monstros imaginários depois de estourar na série “Stranger Things”, que o alçou à fama graças a uma cena em que seu personagem metaleiro toca “Master of Puppets”, do Metallica, para matar morcegos demoníacos.
No entanto, por maior que seja o apelo de seus astros e da franquia à qual pertence, o sucesso de “Dia Um” não é garantido. “Um Lugar Silencioso 2” foi lançado na pandemia, e muita gente acabou não vendo o filme quando ele chegou às plataformas digitais. Agora, Hollywood ainda enfrenta uma crise de bilheteria com seus blockbusters, da qual não sabe muito bem como sair.
Nyong’o e Quinn, porém, estão otimistas quanto ao barulho que o novo longa-metragem pode fazer nas salas de cinema. “É um filme que é uma verdadeira experiência cinematográfica”, ela diz.