Violência contra a mulher é pauta em letra de rap: "incentiva a denunciar abusos"

A população é impactada por notícias sobre violência contra a mulher diariamente. Embora o assunto esteja em evidência, a luta está longe do fim, já que agressões e ameaças continuam se apresentando de diversas formas. Pensando em chamar atenção para a defesa dos direitos fundamentais, Maicon Alberto Calixto da Silva, de 37 anos, o ‘MK’, decidiu compor uma música.

Com a ajuda das irmãs e da esposa, construiu Documento de Posse, uma produção que convida o ouvinte a refletir sobre ações abusivas e denunciar os atos criminosos. “Comece a refletir e olhe para sua vida, onde você virou covarde em cima de cada batida. A batida que eu falo não é a do grave …É quando você põe a mão, e esse assunto é bem mais grave”, canta MK em um dos trechos.

De acordo com o rapper, ter contato com histórias reais também ajudou a pensar em uma letra consistente. “Vi vídeos no YouTube com depoimentos de vítimas. Além disso, uma pessoa próxima sofreu violência. Deu um gatilho de que eu precisava continuar. Dia após dia, avançava na composição e no refrão, percebi que seria fundamental a participação de uma mulher. E minha irmã, Vitória Marcelle, canta. Não é profissional, mas canta muito bem. Escrevi o refrão e ela aceitou. Ficou muito bom. Muita gente curtiu”, contou em entrevista ao Santa Portal.

Irmã viveu relacionamento abusivo

Victoria Marcelle Lima e Silva, de 23 anos, viveu um relacionamento abusivo aos 17. “Sofri violência, mas não abria mão. Continuava ali. Até tentei me distanciar, mas sempre voltava. Isso virou uma bola de neve. Estava presa, porque não enxergava. Você se torna vulnerável em acreditar que tudo aquilo aconteceu por amor e que a culpa é sua. Amor tudo supera, né? É muito louco relembrar tudo isso com a mente e noção das situações como eu tenho hoje. Amor não é isso. Amor é outra história. Hoje eu sei bem”, disse.

Sua história pessoal a incentivou a participar. No entanto, outro ponto que chamou atenção dela é que um homem deu voz para uma causa importante e entendeu a importância do protagonismo feminino na composição.

“Apesar de qualquer coisa, a letra em si pode ajudar muitas mulheres. Mas você ver uma mulher cantando e encorajando outras mulheres com uma situação que MULHERES passam ou infelizmente, estão “sujeitas” a passar por culpa de covardes, é diferente. Sou mulher, passei por isso, sei da dor, do medo, dos sentimentos que tudo isso envolve. Sei como é difícil sair. Sou mulher, é meu lugar de fala. Os homens podem e devem ajudar de alguma forma, mas eles nunca vão saber o que é passar por isso”, defendeu.

MK ressalta importância do posicionamento dos homens

MK entende que é importante homens tomarem consciência do problema. “Procuro contribuir diariamente para que os direitos sejam respeitados, ainda mais por conta da minha filha. Pretendo ter conversas francas com ela sobre o que pode aceitar ou não. Quero que cresça em um ambiente de paz e saiba o que é amor. Isso começa dentro da minha casa. O exemplo de como eu trato minha esposa tem que ser um espelho para ela”, pontuou.

O pensamento do irmão deixa Victoria orgulhosa, pois vê que as conversas que têm com quem está em seu redor são eficientes.

“O acesso à informação é importante. A importância de parar com os xingamentos que ferem os valores de gênero. Entender o que coloca uma mulher em um local de medo, insegurança e objetificação e simplesmente não praticar. Incentivar as mulheres a escreverem a própria história e sempre as deixa cientes que não precisam de ninguém para isso acontecer”.

Contribuição na luta contra a violência

O rapper passou a investir na carreira há cinco meses, com um projeto de dez clipes com temas diferentes. A ideia é sempre compor músicas sem xingamentos e com palavras positivas, para tocar pessoas. Documento de Posse faz parte disso.

“Estou feliz, porque nunca cantei na vida. O clipe estar com 53 mil visualizações é muito gratificante. A música é gigantesca. Se pararem para escutar podem ver que tem sentimento demais, a mensagem importante e pode transformar quem escuta. Meu próximo lançamento é uma composição sobre depressão”, revelou.

Enquanto MK canta sobre assuntos importantes através das músicas, Victória usa o Instagram para auxiliar quem precisa.

“Já perdi as contas de quantas mulheres desconhecidas conversei e instrui, porque percebi que estavam passando por situações humilhantes com seus parceiros. Não falo para me vangloriar, isso é o mínimo que posso fazer sendo mulher. Não estamos em uma competição, muito pelo contrário, tem muito chão pela frente e devemos lutar juntas. Tenho empresa e 70% da minha equipe são mulheres. Nos detalhes nós vamos conquistando nossos direitos, mas quanto mais nos ajudarmos e transmitirmos a força que temos umas para as outras, mais rápido e concreto isso vai acontecer”, concluiu.