30/11/2024

Produção de Scorsese, 'Beatles '64' é bom, mas podia ter mais da banda

Por Thales de Menezes/ Folha Press em 30/11/2024 às 08:54

Reprodução/ Divulgação
Reprodução/ Divulgação

“Beatles 64”, disponível no Disney+, não é apenas mais um exemplar no aparentemente infindável filão de documentários sobre a banda de Liverpool. Dirigida por David Tedeschi, a produção tem uma grife forte, Martin Scorsese, e concentra os 14 dias mais intensos na história do grupo.

As imagens abrangem o período entre 7 e 22 de janeiro de 1964. Nessas duas semanas, os Beatles desembarcaram em Nova York, na primeira visita da banda aos Estados Unidos, e detonaram a Beatlemania no país inteiro, com duas aparições na TV em cadeia nacional e poucos shows diante de plateias enlouquecidas.

Desde que produziu “George Harrison: Living in the Material World”, documentário de 2011, Scorsese se aproximou bastante da viúva e do filho de George Harrison. Paul McCartney e Ringo Starr também entraram para o círculo de amizades do cineasta, e conversas entre eles alimentaram a ideia de “Beatles’64”.

Scorsese sempre teve uma ligação muito forte com a música. Em 1977, ele transformou a derradeira apresentação do grupo The Band, em San Francisco, no filme “O Último Concerto de Rock”. Fez um documentário sobre Bob Dylan, produziu duas minisséries sobre blues e mais uma, “Vinyl”, dramatização sobre a indústria da música na Nova York dos anos 1970.

O diretor de “Vinyl”, Tedeschi, foi chamado para mais uma parceria com Scorsese em “Beatles ‘’64”. Os dois fizeram entrevistas recentes com muitas pessoas que vivenciaram de perto a invasão dos Beatles. Esses depoimentos ocupam praticamente a metade da duração do filme, alternados com as imagens dos quatro rapazes e as fãs histéricas.

Esse material original vem de imagens capturadas pelos irmãos cineastas Albert e David Maysles, que lançaram em 1991 o documentário “The Beatles: The First U.S. Visits”. Além delas, a produção de “Beatles ’64” pesquisou mais de 230 horas de filmagens diversas sobre a viagem da banda.

Há material até então inédito do dia a dia dos Beatles nos Estados Unidas, dando declarações engraçadinhas nas entrevistas, correndo das fãs, tocando no programa de TV de Ed Sullivan e, infelizmente em trechos bem curtos, fazendo apresentações em Nova York e em Washington.

O ponto principal na visita é a noite do dia 9 de janeiro, quando o grupo foi ao “Ed Sullivan Show” e cerca de 73 milhões de espectadores ficaram grudados diante da TV. Esse número significava na época 34% da população do país. Foi um recorde de audiência durante mais de 30 anos, superado apenas por transmissões ao vivo do Super Bowl, a grande final do futebol americano.

Os Beatles já tinham conquistado a juventude americana por antecipação. No ano anterior, eles lançaram seus dois primeiros álbuns na Inglaterra, “Please Please Me” e “With the Beatles”. Os fãs americanos pagavam caro pelos exemplares importados. Com a expectativa da chegada do grupo, sua gravadora tratou de lançar às pressas dois álbuns.

Editado com uma mistura das canções dos dois discos ingleses e de alguns singles já lançados nos Estados Unidos, “Introducing… The Beatles” chegou às lojas no dia 10, logo depois da aparição na TV, e simplesmente evaporou das prateleiras. Os Beatles voltaram ao programa de Sullivan na semana seguinte, com 70 milhões de espectadores, e dois dias depois foi lançado “Meet the Beatles”, mais um álbum que era um amontoado aleatório de canções, também batendo recordes de vendas.

As cenas raras ou inéditas do quarteto perambulando pelos Estados Unidos são a grande atração do documentário e o transformam em item obrigatório para os beatlemaníacos. É curioso ver como eles fumavam compulsivamente, talvez pelo nervosismo, e como realmente ficaram assustados diante da perseguição física das fãs, muito mais intensa do que eles enfrentavam na Inglaterra.

No entanto, é preciso destacar que a proposta de Scorsese para o documentário pode não agradar tanto assim uma boa parte dos seguidores da banda. As entrevistas com as testemunhas da visita dos Beatles incluem intelectuais, artistas e fãs anônimos que a produção do filme localizou nos dias atuais a partir de aparições nas imagens da época. Apenas algumas são divertidas. Para quem deseja ver os Beatles em ação ou fazendo brincadeiras de bastidores, a falação desse pessoal chega a um ponto repetitivo na narrativa.

“Beatles 64” é muito bom. Mas poderia ser melhor com menos fãs e mais Beatles.

Beatles’ 64

  • Avaliação Muito bom
  • Classificação 14 anos
  • Produção Estados Unidos, 2024
  • Direção David Tedeschi
  • Onde assistir Disney+
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