05/02/2025

Por que Selena Gomez, longe da música, virou alvo de piada com 'Emilia Pérez'

Por Folha Press em 05/02/2025 às 10:12

Divulgação
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Antes de Karla Sofía Gascón virar pária na internet e ameaçar a campanha de “Emilia Pérez” ao Oscar, o filme já sofria por causa da sua outra protagonista, a cantora Selena Gomez, que há anos tenta ser levada a sério como atriz. A julgar por essa performance, não deu certo.

Desde que o longa francês estreou no mercado internacional e na Netflix americana, no final do ano passado, se avolumaram críticas às habilidades de Gomez, acusada de falar mal espanhol e de não alcançar o mesmo nível de interpretação das suas colegas de cena, Zoe Saldaña e da própria Sofía Gascón, ambas indicadas ao Oscar de atriz coadjuvante e atriz, nesta ordem.

Gomez personifica tudo o que fez “Emilia Pérez” virar chacota nas redes sociais. Pegou mal o fato de ela ser uma americana no centro de um filme que se vende como retrato do México. A artista se defende dizendo que é descendente de mexicanos e que tem contato com a cultura do país desde criança.

“Fiz o melhor que pude com o pouco tempo que tive”, ela escreveu nas redes sociais após o ator mexicano Eugenio Derbez dizer que sua atuação é indefensável.

Na semana passada, Gomez publicou um vídeo às lágrimas pelos milhares de mexicanos imigrantes deportados dos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump. “Meu povo está sendo atacado, eu não entendo. Me desculpem, eu queria poder fazer algo, mas não consigo”, disse. Nas redes, o vídeo foi considerado oportunista, e Gomez o apagou em seguida.

Ela também virou piada -como o resto do elenco- pelas cenas musicais consideradas constrangedoras. Num desses momentos, cheia de ódio, sua personagem Jessi mistura uma coreografia de dança e espasmos de raiva ao ser contrariada pela personagem-título. É uma cena propositalmente cafona e bagunçada, mas que causa estranhamento fora de contexto.

Não à toa, Gomez foi a única das três protagonistas ignorada pelas premiações dessa temporada. Ela foi reconhecida como melhor atriz no prêmio coletivo do Festival de Cannes, dado a ela, Saldaña, Sofía Gascón e Adriana Paz. Gomez, porém, ficou de fora do Oscar, do Globo de Ouro e do Critics’ Choice Awards.

É consenso dos detratores de “Emilia Pérez” que ela só foi escalada por ser famosa, a mulher com mais seguidores do mundo no Instagram, e não por ser boa atriz. Com o filme indicado a 13 estatuetas do Oscar, recordista deste ano, ficou difícil escapar da onda que ele gerou nas redes sociais, e Gomez deve ver seu respeito em Hollywood ruir.

Ela vinha traçando caminho promissor rumo ao reconhecimento na área com a comédia “Only Murders in the Building”. Na série, Gomez forma um trio inesperado com Steve Martin e Martin Short, artistas renomados do humor americano. Contra as expectativas, houve química entre eles, e a produção deslanchou.

Foi durante as gravações da segunda leva de capítulos de “Only Murders” que Gomez começou a se preparar para “Emilia Pérez” -época em que ela lançava também “Revelación”, um EP com seis canções em espanhol. “Ainda farei mais um álbum, mas gosto muito de atuar e, neste momento é o que quero fazer”, ela disse à Folha de S.Paulo na ocasião.

Foi na música que Gomez ganhou projeção mundial. Não que ela seja dona de uma discografia de prestígio crítico, mas conseguiu fazer barulho o suficiente com um hit ou outro, caso de “Wolves”, com as batidas eletrônicas do DJ Marshmello, e “Calm Down”.

O disco que mudou sua carreira foi “Revival”, lançado há dez anos, que mistura faixas de pop sensual a um R&B comedido. Seminua na capa, Gomez usou o projeto para repetir aquilo que Miley Cyrus e Demi Lovato já tinham feito -tentar romper com a imagem de boa moça que a Disney criou para ela.

Seu estrelato nasceu no Disney Channel com a série “Os Feiticeiros de Waverly Place”. A produção infantojuvenil sobre aprendizes de feiticeiro foi uma das mais vistas dos anos 2000.

Com seu jeito simpático, distante das polêmicas em que se envolviam Cyrus e Lovato, Gomez virou uma das princesas em carne e osso que encantava adolescentes. Contava ainda o fato de ela ter começado um namoro com Justin Bieber, maior astro pop da última década.

Celebridade desde jovem, Gomez sabia como seguir a cartilha do bom comportamento à risca e demorou a querer expor qualquer vulnerabilidade. Fez isso só no documentário “My Mind & Me”, de 2022, em que fala da luta contra ansiedade e o lúpus.

Os problemas de saúde a fizeram interromper sua “Revival Tour”, em 2016, e desde então ela se aposentou dos palcos. Seu último álbum, “Rare”, de cinco atrás, mal foi cantado ao vivo.

Assim, Gomez mudou de direção e criou a Rare Beauty, marca de beleza que explodiu entre a geração Z. Segundo relatório da Bloomberg, a empresa tornou Gomez bilionária no ano passado, aos 32 anos, uma das mulheres mais jovens a alcançar o feito. Mesmo detestada por tantos, Gomez é, ainda assim, um caso raro.

Emilia Pérez

Quando Estreia nesta quinta (6) nos cinemas
Classificação 16 anos
Elenco Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez
Produção França, México, 2024
Direção Jacques Audiard

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