Peça 'Norma' junta Nívea Maria e Rainer Cadete em enredo sobre dores e solidão
Por Cristina Camargo/Folha Press em 25/03/2024 às 15:03
A atriz Nívea Maria, 77 anos, viveu dias de expectativa antes da estreia de “Norma“, peça teatral que protagoniza e acaba de voltar aos palcos de São Paulo duas décadas depois da bem-sucedida primeira montagem, com Ana Lúcia Torre e Eduardo Moscovis.
“É uma montanha-russa de emoções. Há o respeito com o público, a vontade de querer apresentar o melhor”, disse à Folha na véspera da estreia, ocorrida na sexta-feira (15).
Dirigida por Guilherme Piva, a encenação atual tem Rainer Cadete, 36, como Renato, o antigo inquilino do apartamento em que a rígida Norma vive sozinha, tentando fugir das lembranças e com um crucifixo pendurado em uma pulseira. Ele aparece com flores para pedir que a nova moradora informe o seu atual endereço e telefone às pessoas que o procurarem.
O encontro começa com um mal-entendido, vira embate após uma informação sobre o libertário Renato que abala a moralista Norma e se transforma a partir da revelação de uma coincidência surpreendente e emocionante.
O choque entre as diferenças dos dois e o encontro das dores e solidões é o mote do espetáculo, conduzido por uma única música na trilha sonora, “Vapor Barato”, na interpretação inesquecível de Gal Costa.
Na apresentação para convidados, na segunda-feira (18), Ana Lúcia Torre, 78, estava na plateia e foi aplaudida pelo sucesso de 22 anos atrás. No palco, Nívea Maria não demonstrou o nervosismo que revelou ter sentido ao reencenar uma peça aclamada, que ficou na memória do público de teatro.
“O Guilherme [Piva] é muito criativo e tem uma sensibilidade enorme para ajudar na criação dos personagens, com um brilho, uma luz diferente para essa Norma e para esse Renato”, analisa Nívea sobre a nova versão, que traz à tona as intransigências responsáveis por muitos rompimentos familiares nos últimos anos.
Discussões sobre temas como sexualidade, casamento, machismo, violações e preconceitos garantem a atualidade de “Norma” e fazem a atriz veterana sentir satisfação ao viver no palco uma personagem que provoca reflexões.
Nívea comemora também a presença no teatro. Ela conta que sempre teve vontade de estar em cena, mas nos “tempos áureos” da televisão só conseguia realizar esse desejo quando não estava atuando nas inúmeras novelas e séries que marcaram sua carreira artística, desde a TV Excelsior até o Globoplay.
Sem contrato fixo com a Globo desde 2022, a veterana está mais disponível para os palcos e para as personagens que fogem do que chama de “porta-retrato” televisivo. Nívea viveu muitas mulheres diferentes, mas ficou marcada como uma pessoa meiga e recatada.
“No teatro temos a possibilidade de ter personagens diferentes”, reforça. Quando conseguiu brechas na agenda para subir aos palcos, ela interpretou, por exemplo, uma lésbica em “As Lobas”, em 1996. E ficou nua no espetáculo “Na Sauna”, no final da década de 1980.
Ousar é importante para a atriz e não só quando veste o figurino de uma de suas criações. Ela percorreu uma trajetória corajosa na vida ao enfrentar a família da classe média paulistana e encarar o ofício artístico em uma época em que isso era confundido com prostituição.
Para ir adiante, Nívea escondeu a profissão do pai, um advogado, por cinco anos. Mais velha e mãe de três filhos, precisou aprender a viver sozinha após o fim do casamento de quase 30 anos com o diretor Herval Rossano (1935-2007).
Atenta aos enfrentamentos atuais, afirma que para ela não é novidade lutar para ocupar espaços e ter direitos. No entanto, vê mais bandeiras do que ação nos dias de hoje.
“Não adianta fazer discurso, ir lá, apontar o dedo. Você tem que agir de alguma forma.”
Serviço
Quando Até 5 de maio. Ter. e sáb., às 20h; Dom., às 18h
Onde Teatro Vivo – av. Doutor Chucri Zaidan, 2460, São Paulo
Autoria Dora Castellar e Tônio Carvalho
Elenco Nívea Maria e Rainer Cadete
Direção Guilherme Piva