Olivia Rodrigo arrebata adolescentes com rebeldia Disney no Lollapalooza
Por Lucas Brêda/Folhapress em 29/03/2025 às 12:12

Quatro anos depois de despontar no TikTok, Olivia Rodrigo subiu no palco como atração principal do Lollapalooza no Brasil. A cantora de 22 anos, que surgiu atuando na edição mais recente da série “High School Musical”, encontrou uma multidão recheada de crianças e adolescentes acompanhados dos pais.
Para quem frequenta o Lollapalooza há anos, era nítida a sensação de que a média de idade do público era baixa como nunca antes vista –nem mesmo na apresentação de Billie Eilish, há dois anos, no mesmo espaço. O show do Empire of the Sun, um indie viajado que fez sucesso há mais de dez anos, soou alienígena para os adolescentes que encheram o palco Budweiser no horário anterior ao de Rodrigo.
Ela é a trilha para uma comédia romântica jovem em que a protagonista tenta se encontrar entre seus próprios impulsos e as expectativas do mundo em torno dela. A plateia do Lollapalooza pôde ouvir a cantora descobrindo que o amor não dura para sempre em “Drivers License”, hit da pandemia que a alçou à fama, e digerindo o primeiro chifre em “Traitor” -da letra “você é um traidor ainda que não tenha me traído”.
Ela trata essas situações com humor, mas as letras são repletas de insegurança adolescente, ansiedade social e baixa autoestima. É como se pegasse o sentimentalismo lírico de Taylor Swift -sua influência desde o primeiro álbum- e o derramasse sobre guitarras distorcidas e alguma energia pop punk no estilo Avril Lavigne.
De certa forma, em sua obra, ela mimetiza sons e temas do rock alternativo dos anos 1990 que se popularizaram na MTV. Em “Ballad of a Homeschooled Girl”, lembrou o Pixies. Em “Brutal”, cantou como uma discípula de Kurt Cobain que só tem dois amigos, não gosta das músicas que compõe, e não é legal nem esperta.
Musicalmente, contudo, Rodrigo foi uma versão menos despojada dessas referências -tudo isso sob um filtro pop polido, raiva e angústia envoltos em plástico bolha. Trata-se de uma rebeldia Disney, mais como a Miley Cyrus do hit adolescente “7 Things”, de 2008, do que depois de “Wrecking Ball”, de 2013, e sua virada para a persona que não liga para o que pensam dela.
Tanto que, no palco, ela não lembra uma desajustada. Pelo contrário, suas performances são de uma diva pop que rebola, faz poses tocando guitarra, passa batom e tem a companhia de bailarinos -nos momentos mais roqueiros, inclusive, os dançarinos parecem completamente fora de lugar.
Na verdade, no palco, Rodrigo cresceu justamente quando tratou a insegurança adolescente, motor de sua poesia, com deboche.
Rodrigo eletrizou o autódromo de Interlagos com “Obsessed”, espalhando pelos alto-falantes como é fascinada pela ex de seu atual, no começo do show. Em “Jealousy Jealousy”, já na metade final, cantou sobre desejar os dentes brancos, o corpo perfeito e os amigos legais de uma garota mais popular que ela.
Nesses momentos, ela posou no Lollapalooza como a representante da ansiedade de uma geração que convive com a inveja na ponta dos dedos, na superfície da tela de um smartphone. Mais do que se sentir um estranho, ela reflete a inadequação de sentir inveja até do que ela nem sabe se deseja mesmo.
Essa abordagem ficou mais evidente na parte do show dedicada às baladas melódicas, praticamente metade do repertório -onde Rodrigo se encaixa mais diretamente na linhagem confessional de Swift. Foram os momentos de maior emoção da plateia, cheia de adolescentes berrando os refrões melancólicos.
O público fez coro em “Enough for You”, tocada somente por ela na guitarra, e em “Happier”, quando ela confessa na letra querer que o ex seja feliz com a nova namorada -só não mais do que ele era antes com ela. É um sentimento que muitos jovens ali já tiveram, mas provavelmente não conseguiram dizer em voz alta.
No cenário mais novo da música pop, Rodrigo não possui a autenticidade de uma Billie Eilish, mas desponta como um dos nomes mais interessantes desse pop popularizado no TikTok -que, aliás, domina a grade do Lollapalooza neste ano.
Em geral, a sonoridade dessa turma é demasiadamente derivativa, mais preocupada em dialogar com o passado do que imaginar algum tipo de futuro. É uma música familiar o suficiente para ser rapidamente reconhecível, e diferente o suficiente para se destacar no mar de lixo digital das redes sociais.
Olivia Rodrigo também é isso, mas com doses mais intensas de verdade, uma coleção de boas sacadas e a capacidade de dialogar intimamente com o sentimento de milhões de jovens que também estão aprendendo como viver. Mais do que o reconhecimento pelo Grammy ou os afagos da crítica internacional, é nos olhos mareados e na euforia dos fãs -como dos brasileiros neste Lollapalooza- que se entende seu poder.