21/11/2025

Novo filme 'Silvio Santos' é pobre e reforça que o personagem é infilmável

Por Sérgio Alpendre/Folhapress em 21/11/2025 às 17:25

Divulgação/ SBT
Divulgação/ SBT

Em 2024, foi lançado o longa “Sílvio”, de Marcelo Antunez, uma cinebiografia do maior comunicador da TV brasileira, Silvio Santos. Rodrigo Faro o interpretava com voz que lembrava a de Tony Ramos, sem os trejeitos típicos que fazem a festa dos imitadores.

Na trama, o sequestro de sua filha Patrícia Abravanel, em 2001, e a posterior ameaça do sequestrador, que entra na casa da família para fugir de policiais, dava a chance de relembrar momentos da vida desse ídolo de milhões.

Um ano depois, “Silvio Santos Vem Aí”, de Cris D’Amato, surge com a liberdade de não ser mais tão didático a respeito de sua vida, deixando bastante de lado as lembranças contextualizadoras que praticamente fizeram o filme de Antunez se afundar.

Este novo filme se passa 12 anos antes do sequestro, quando Silvio resolve se lançar candidato à presidência do Brasil poucas semanas antes das eleições.

Foi uma aventura temporária, que na época causou um rebuliço no meio político brasileiro. Pesquisas eram feitas e refeitas para entender como o fenômeno de popularidade iria mexer com as campanhas dos demais presidenciáveis, que, certamente, procurariam munição para atacá-lo por todas as frentes.

Uma jornalista chamada Marília, vivida por Manu Gavassi, é incumbida por seu chefe de acompanhar o apresentador por 15 dias. O que inclui procurar saber de algum podre que a oposição possa levantar e usar contra ele.

Bom que mantiveram os nomes dos candidatos que lideravam as pesquisas, Lula e Collor. Nesse sentido, é estranho mudarem a famosa troca de farpas entre Brizola e Paulo Maluf num debate histórico, em que o primeiro chamava o outro de filhote da ditadura e Maluf respondia acusando Brizola de desequilibrado. No filme, as palavras são outras.

Esteticamente, o filme é muito pobre. Basta observar o cartaz, com a pose característica do apresentador, vivido por Leandro Hassum, olhando para a câmera. Há muito brilho, as colegas de auditório desfocadas ao fundo e o título num tipo de fonte que parece associar o personagem à série “Star Wars”. Esse cartaz mais afasta do que atrai as pessoas.

A pobreza estética disfarça um pouco a má caracterização do final dos anos 1980, outro problema sério do longa. Uma reconstituição de época competente é fundamental para um filme com essa ambição comercial.

Do jeito que ficou, assistimos ao filme e não lembramos de muita coisa após a projeção. Ele desaparece de nossa memória, resultado de não ter criado imagens fortes, somente a recriação de uma ou outra situação que já conhecíamos de antemão, como a piada do bambu dita pela criança e também modificada no filme.

Não é um horror de se ver porque quase todo o elenco está bem, com destaque para Manu Gavassi, numa espécie de chance dos sonhos para dar um salto como atriz.

As cenas em que ela acompanha as gravações do programa Silvio Santos são interessantes porque ela consegue transmitir uma certa surpresa com o magnetismo do apresentador e com a maneira como ele controla sua plateia.

Hugo Bonèmer é outro que está bem como o publicitário Carlinhos, que se apaixona por Marília. Seu olhar de admiração é convincente, assim como o seu desejo de ajudar.

Finalmente, vale destacar a presença discreta, mas certeira de Regiane Alves como a mulher de Silvio, Íris Abravanel. Nas cenas em que ela aparece incentivando o marido na aventura política, a atriz transmite força e confiança.

O que provoca o “quase” de alguns parágrafos acima é justamente a interpretação de Leandro Hassum, que procura a imitação e com isso cai na paródia, deslize que Rodrigo Faro tinha conseguido evitar. Um bom humorista, sem dúvida, mas uma escolha errada para o papel.

Hassum disse em entrevistas que não quis imitar o Silvio, pois este seria inimitável. Bom, “O Inimitável” é um disco do Roberto Carlos e como ouvimos da boca de Marília, todo mundo pensa que sabe imitar o Silvio Santos, justamente porque ele é muito imitável. Essa era a força do comunicador, e é o que ficou de sua característica. Muitos lembravam dele por ser uma pessoa facilmente imitável.

Esses erros de cálculo desviaram “Silvio Santos Vem Aí” dos trilhos. Sendo o segundo filme sobre o mesmo personagem em dois anos, é triste que seja inferior ao primeiro, que já não era grande coisa. Talvez o personagem seja, na verdade, infilmável.

Silvio Santos Vem Aí

  • Avaliaçã: Regular
  • Quando: Estreia nesta qui. (20) nos cinemas
  • Classificação: 12 anos
  • Elenco: Leandro Hassum, Manu Gavassi e Vanessa Giácomo
  • Produção: Brasil, 2025
  • Direção: Cris D’Amato
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