03/10/2024

'Moon Music' é mais um disco do Coldplay sem qualquer ideia nova

Por Amanda Cavalcante/Folhapress em 03/10/2024 às 09:58

Matt Miller/Divulgação
Matt Miller/Divulgação

Quem ouviu a estreia do Coldplay com “Parachutes” em 2000 dificilmente adivinharia a força comercial que a banda britânica ganharia nas décadas seguintes. De um rock alternativo de sonoridade delicada e lenta, a banda recalculou rota ao final dos anos 2000 e passou a investir num pop épico e alegre.

Com trabalhos cada vez mais desinteressantes, o quarteto britânico falha mais uma vez em surpreender em seu décimo álbum de estúdio, o modorrento “Moon Music”, que será lançado nesta sexta-feira (4) nas plataformas de streaming.

Quando o Coldplay surgiu, na virada do século, com faixas celebradas como “Sparks” e “Fix You”, o grupo parecia se inspirar em bandas como os seus conterrâneos Radiohead e os islandeses Sigur Rós -ambos de muito sucesso em seus respectivos nichos, mas sem tanto apelo para as massas. Foi nessa época que fizeram seu primeiro show no Brasil, em São Paulo, para 6.000 pessoas.

O caminho que a banda tomou com o passar dos anos não poderia ter sido mais diferente de seu início. A partir de “Viva La Vida”, de 2008, o Coldplay deixou de lado a melancolia e a veia alternativa. Passou a ser uma banda alegre, que se aproximava cada vez mais do pop, por meio de parcerias como as que fizeram com o grupo de k-pop BTS e a cantora Rihanna.

A mudança garantiu que, ao longo das décadas, a banda ganhasse o posto de uma das mais proeminentes do pop internacional, com shows ao vivo marcantes e coloridos, como a clássica apresentação da banda no Rock in Rio de 2011 e sua turnê pelo Brasil no ano passado.

O único problema: a música do grupo perdeu todas as características que a faziam única, caindo num limbo que parece fadado a tentar agradar ao mínimo denominador comum. Essa mesma morosidade toma conta de “Moon Music”, que não apresenta nem uma ideia nova sequer do vocalista Chris Martin e sua trupe.

O próprio single de divulgação do álbum, “feelslikeimfallinginlove” -uma junção de palavras em inglês para algo como “parece que estou me apaixonando”-, parece um déjà vu para algumas das faixas mais recentes da banda, como “My Universe” e “Something Just Like This”.

A batida eletrônica discreta, o refrão com coros e o sentimentalismo barato, tudo está ali. A impressão é que já ouvimos Martin cantando sobre o mesmo instrumental diversas vezes na última década.

Um dos únicos atributos interessantes de “Moon Music” é o fluxo entre uma música e outra. Cada faixa se encaixa perfeitamente na anterior, dando a impressão de que estamos ouvindo a uma grande obra coesa e não só um conjunto de faixas. Mas não tem quase nada notável nos 43 minutos de duração do álbum.

A duração, então, parece se arrastar mais do que o necessário. A primeira faixa, “Moon Music”, conta com uma introdução tediosa de som ambiente de dois minutos antes de se apresentar como uma balada lenta de piano de novo, nada que o Coldplay já não tenha feito diversas vezes ao longo dos últimos anos.

Os momentos em que o Coldplay parece mais próximo de fazer algo que valha a pena ouvir ficam por conta das participações do álbum. A rapper britânica Little Simz faz um verso cativante em “We Pray”, faixa com uma levada que lembra hip-hop. Em “Good Feelings”, chamam atenção os belos vocais da cantora nigeriana Ayra Starr.

Mas o pano de fundo que a banda constrói para essas boas performances quase extingue o brilho que as participações adquirem. Os temas do grupo tampouco mudaram nestes três anos que eles tiveram para criar um novo álbum, desde o lançamento de “Music of the Spheres”, em 2021.

Não é como se houvesse uma falta de assuntos para o Coldplay, que sempre foi envolvido com filantropia e ativismo. Mas, mesmo com as guerras, desigualdades e crises ambientais que se aprofundaram no mundo pós-pandêmico, eles parecem ter pouco a dizer -até a canção “One World”, que fecha o álbum, somente repete em loop a frase “one world, only one world” -ou um mundo, só um mundo.

Há alguns dias, Chris Martin disse em entrevista ao locutor Zane Lowe que o Coldplay terá apenas doze álbuns antes de encerrar sua discografia -ou seja, mais dois álbuns além de “Moon Music”. Se os próximos projetos da banda forem tão sem inspiração quanto este, talvez seja melhor encerrar os trabalhos mais cedo.

MOON MUSIC
Avaliação Ruim
Quando Lançamento nesta sexta-feira (3) no streaming
Autoria Coldplay
Gravadora Warner Music

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