King Saints se reinventa em projeto com críticas sociais e parcerias de peso; "mostrar o quanto a gente precisa se ‘branquear'”
Por Beatriz Pires em 10/10/2024 às 06:00
Se Eu Fosse Uma Garota Branca é o álbum de estreia da cantora e compositora King Saints. Após cinco anos nos bastidores, King se reinventou em um projeto repleto de críticas sociais e parcerias de peso.
São 11 faixas inéditas, com colaborações de artistas como Karol Conka, MC Soffia, Leone, entre outros. Juntos, eles usam a rima para destacar a força da mulher preta, com muita ironia e um humor singular.
Assim como na música, seu primeiro clipe, que leva o mesmo nome do álbum, inspira-se em Zezé Motta e Taís Araújo, fazendo uma crítica ao processo de whiteface.
Em entrevista ao Santa Portal, a cantora King Saints falou sobre essa nova fase da carreira, o processo de criação do álbum, suas inspirações musicais e visuais, além de sua agenda de shows.
Após muitos anos escrevendo para outros artistas, o que te inspirou a lançar o seu primeiro álbum? Como foi essa transição?
Eu, na verdade, comecei na vida como bailarina, depois virei cover dublada, que eram umas competições muito específicas que aconteciam aqui no Rio de Janeiro. E aí, nesse meio, comecei a criar minhas próprias músicas e a fazer shows nas boates do Rio de Janeiro. Então, na verdade, comecei ali na música, sendo artista e intérprete. A composição para outros veio depois, mas também foi um caminho que encontrei para pleitear o meu trabalho dentro do mercado.
É algo que gosto muito de fazer, compor música. São duas coisas que caminham juntas. Só que, nesses últimos dois anos, foi o momento em que dei muita atenção ao meu trabalho como intérprete. Fiquei cinco anos nos bastidores, mas gosto disso e estou bem feliz. Não foi repentino, foi bem pensado. Estamos aí, fazendo as duas coisas. Temos indicações no Grammy como compositora, estivemos no Rock in Rio, e agora lançando o álbum. Então, é um ano de vitória.
Como foi o processo de criação do álbum Se Eu Fosse Uma Garota Branca?
Foi um processo bem divertido. No estúdio, estava com produtores e amigos que tornaram tudo leve. Diferente de compor para outros, aqui pude relaxar e realmente me expressar sem pressão, porque, quando a gente faz trabalho para outras pessoas, acaba sendo estressante, já que não são necessariamente nossas próprias ideias, não somos nós que vamos cantar, e tem que fazer sentido para o outro intérprete.
As colaborações com artistas como Karol Conka e MC Soffia foram experiências incríveis e trouxeram uma energia única ao álbum. Se eu olhar para trás, para a King de antigamente, e falar para ela: “Olha só, seu álbum vai ter essa galera toda com você”, acho que ela ficaria muito impactada com o que conseguimos juntos.
Bom, já que você falou das parcerias, o álbum conta com colaborações de artistas como Karol Conka, MC Soffia e Leone. Como foi trabalhar com esses nomes?
Foi muito especial. Todos esses artistas têm uma importância grande na minha trajetória pessoal, são pessoas que admiro há muito tempo. Cada um deles fez parte de alguma fase minha, seja por alguma música, seja pela estética.
Foi muito maneiro, todo mundo me recebeu muito bem. É triste quando você conhece um artista que gosta e ele é chato, sabe? Mas, nesse caso, todos foram incríveis, e isso transparece no resultado do álbum. É um trabalho que, claramente, foi feito com muito café, muito trabalho e muita diversão.
Eles estiveram com você no processo de composição também?
Algumas músicas eu já tinha começado, como “Cinderela”, da MC Soffia. Eu tinha uma parte, mas o refrão ainda não existia. Quando ela chegou, criou a parte dela e tudo fluiu de uma vez, foi incrível. Já a música com a Karol Conka, fizemos do zero: eu, ela e a MC Taia, juntas, escrevendo. Eram três mulheres negras criando uma música poderosa, para chegar com atitude, e daí saiu “Kanhota”. Foi um processo bem colaborativo, nada foi feito sozinho.
Quais foram as principais inspirações musicais e visuais que você trouxe para a faixa-título e para o videoclipe?
Visualmente, trouxemos como inspiração Zezé Motta, enquanto Chica da Silva, que faz um processo de whiteface. Acho que é interessante mostrar o quanto a gente precisa se “branquear” para mostrar que ascendeu de alguma maneira. Thaís Araújo também, quando fez Chica da Silva, teve o mesmo processo. Grace Jones foi outra grande referência estética que usamos.
Na produção da música, tivemos como referência Lily Allen, com “Smile”, e “Blank Space”, da Taylor Swift, para criar as harmonias e melodias. Foram duas faixas que usamos muito como norte.
No seu álbum, você é muito irônica, com muitas críticas sociais. Como acha que sua vida pessoal influencia sua vida artística?
Totalmente. Eu tive que entender muitas coisas. Saber dividir o que é sobre mim e o que é sobre a figura que as pessoas construíram, baseado no que acham que é uma pessoa negra da favela, sabe? Ter que me proteger nesse lugar e não perder minha voz por causa da perspectiva dos outros me fez trazer isso para o álbum, para a música.
Acho que não permito que ninguém silencie minha voz, porque tenho consciência do que estou fazendo. A consciência é muito importante. Saber de onde vim, para onde vou, e o porquê de estar fazendo as coisas. Estar sempre em busca desse conhecimento definitivamente reflete na minha música.
Agora, queria saber um pouquinho sobre sua agenda de shows. Como está esse novo projeto?
Então, vem aí! Estamos montando uma turnê. A partir de novembro, teremos novidades. Estamos segurando algumas informações, mas, ainda este ano, estaremos na pista. Vamos ver qual será a demanda.