Hurricanes lança seu segundo álbum de estúdio com oito faixas inéditas
Por Gustavo Sampaio em 10/10/2024 às 06:00
Com um som mais conectado ao rock setentista, a banda Hurricanes lançou seu segundo álbum de estúdio, Back to the Basement, sucessor do álbum de estreia, homônimo, divulgado em 2023. São oito faixas inéditas, e, como o próprio nome do disco sugere, ele foi criado no porão de um dos integrantes da banda.
Em entrevista ao Santa Portal, o guitarrista do Hurricanes e produtor do disco, Leo Mayer, explicou o processo de criação do álbum e confirmou o lançamento de um conteúdo ao vivo nos próximos meses. O artista também compartilhou sua opinião sobre a renovação do rock atual. Confira a íntegra da entrevista abaixo.
Como foi o processo de produção do álbum?
A gente retornou ao porão da casa do Henrique (Cezarino), nosso baixista, para começar a escrever esse álbum, rascunhar e juntar ideias. O processo começou a fluir muito rápido, tanto que faz pouco mais de um ano que lançamos o primeiro disco. As coisas realmente começaram a andar muito depressa.
A princípio, não havia uma data ou pressão para lançar um disco no ano seguinte, mas as coisas foram acontecendo, e ficamos muito felizes por termos um álbum pronto tão rapidamente. Foi basicamente construído no porão da casa do Henrique, o que tornou o processo muito espontâneo. Tivemos bastante tempo para trabalhar, já que não havia horas de estúdio limitadas. Acredito que isso nos permitiu trazer um resultado mais espontâneo do que o primeiro álbum.
Vocês se sentem mais maduros após o primeiro álbum? O que mudou no som de vocês desde então?
Acho que não. Nesse sentido, foi parecido. O que realmente aconteceu de forma mais rápida foi o processo de composição. Começamos a rascunhar o primeiro single, “Pain In My Pocket”, em dezembro de 2023, ainda no ano do primeiro álbum. Em fevereiro ou março, já estávamos no estúdio gravando. Esse processo foi muito ágil.
No primeiro álbum, levamos anos para juntar todas as ideias e nos sentirmos prontos para ir ao estúdio. A gravação, no entanto, foi feita de maneira semelhante em ambos os casos.
Vocês pensam em gravar em português algum dia?
A gente não planeja muita coisa, seguimos mais no feeling. Tanto eu quanto o Rodrigo já tivemos projetos de rock ‘n’ roll em português. Eu já compus em português, então, por que não um dia, né?
Você produziu o álbum novamente. É melhor produzir o próprio trabalho para preservar a essência da banda ou ter alguém de fora nessa função?
A vantagem de produzir o próprio álbum é que você tem um som específico na cabeça e consegue chegar a essa sonoridade rapidamente. Se tivéssemos um produtor externo que não estivesse 100% alinhado, talvez fosse mais complicado.
Por outro lado, a parte negativa é que, muitas vezes, não estou pensando como guitarrista, mas como produtor. Então, preciso alternar entre essas funções. Às vezes, chamo a banda e pergunto: “Galera, o que vocês acham disso aqui?” porque estou pensando na bateria ou na voz. O lado positivo é que conseguimos alcançar o som que queremos.
Eu participo de todos os processos, desde a composição até a gravação, mixagem e finalização. Já trabalhamos com alguns profissionais antes, e, às vezes, no resultado final, dá aquela vontade de ajustar uma frequência ou gravar de outra forma. Produzindo nós mesmos, conseguimos ficar mais satisfeitos.
Como você acha que será tocar o álbum ao vivo?
A ideia é divulgar ao máximo esses dois álbuns, seja online ou gravando materiais ao vivo, algo que estou sentindo falta. Temos bastante conteúdo de estúdio, mas, para quem não mora em São Paulo ou nas capitais onde estamos tocando, não há um conteúdo ao vivo da banda disponível.
Queremos mostrar a banda ao vivo, com a espontaneidade e até os erros que acontecem. Então, sim, a ideia é ter um conteúdo ao vivo e tocar o máximo possível. Queremos nos apresentar em todos os lugares.
Vocês já têm uma data para o lançamento ou gravação desse conteúdo ao vivo?
Ainda não temos uma data, mas o quanto antes. É uma prioridade. Temos os dois álbuns, mas agora queremos muito ter um conteúdo ao vivo. Acredito que em novembro ou dezembro vamos gravar para lançar em breve. Muita gente nos procura e diz: “Pô, queria muito ver vocês ao vivo”, mas realmente não temos nada disponível. Gravar um show demanda bastante trabalho, não é só colocar um celular e filmar. É preciso ter uma qualidade de som e um vídeo legal, mas isso vai acontecer.
No mês passado, o Rock in Rio gerou um debate sobre a falta de representatividade do rock no evento. Você concorda? Por quê?
Consigo ver os dois lados. Como espectador, acho que deveria haver mais bandas do underground, além das grandes, participando. Mas também entendo o lado da produção, que precisa ter headliners, senão não vende ingressos. Hoje em dia, está complicado, porque os grandes nomes do rock estão sempre vindo, e, às vezes, isso não chama tanta atenção.
É um assunto muito complexo. Quando você faz um festival como o Lollapalooza, com várias bandas underground, o público reclama dizendo: “Pô, nem conheço essa banda”. Então, como fica para o produtor? Se coloca nomes novos, a galera critica. Se coloca nomes grandes, reclamam que o rock não é mais mainstream. É difícil agradar todo mundo.
O Rock in Rio tem dois palcos principais, mas existem vários outros. Só que, às vezes, esses palcos não têm muito público. Acho que poderia haver um festival que trouxesse mais nomes novos de rock, talvez com um dia dedicado ao rock. Sinto falta disso.
As bandas clássicas estão se aposentando. Vi recentemente o Eric Clapton tocando em Buenos Aires, e ele tem 79 anos. Como será essa substituição? Vai ficar assim para sempre e, depois, acabou? Como será essa renovação? É um assunto muito complexo.
Na sua opinião, o rock não teve uma renovação? Ou existe renovação de artistas e público, mas a mídia ignora?
O rock teve uma renovação, mas ela não está no mainstream. O rock virou totalmente underground. Ele já era, depois se tornou mainstream por um tempo, mas voltou para o underground. No próprio Rock in Rio, se não me engano, um blueseiro chamado Kingfish se apresentou.
A questão é: quem vai substituir Eric Clapton? Existem artistas novos, mas também há uma resistência do público em aceitar coisas novas. Vejo que as pessoas só querem o que é muito conhecido. Acho que o grande culpado é o público, tanto o mais velho, que diz que o rock morreu, quanto o mais jovem, que não abre a cabeça para novidades.