Em 'Chromatica Ball', Lady Gaga reafirma seu lugar intocável na música
Por Amanda Cavalcanti/Folhapress em 24/05/2024 às 10:33
A turnê “Chromatica Ball”, de Lady Gaga, aconteceu quando o mundo ainda voltava à normalidade após a pandemia de Covid. Após ser adiada duas vezes, chegou aos palcos em julho de 2022. Uma dessas apresentações, em Los Angeles, para 52 mil pessoas, foi filmada e estreia no Max neste sábado.
Apesar de a turnê ter tido apenas 20 shows, é possível que a cantora queira voltar a chamar a atenção ao seu sexto álbum, “Chromatica”. Dançante e animado, o disco perdeu um pouco o brilho por ser lançado em 2020, ano do distanciamento social, quando a única pista de dança possível era a sala de casa.
Mas “Gaga Chromatica Ball” deixa a impressão de que pode valer a pena escutar “Chromatica” com mais atenção. O show é dividido em quatro atos, além de um prelúdio e um final, e tira proveito de todos os melhores momentos do álbum -sejam as faixas vibrantes como, “Babylon” e “Sour Candy”, sejam as baladas, como “Fun Tonight”-, assim como de outros períodos da carreira da cantora.
Gaga inicia o show com alguns de seus maiores hits -“Bad Romance, “Just Dance” e “Poker Face”. A estrutura é a primeira coisa que chama a atenção -são dois palcos, um acima do outro, com três telões, escadas, espaços iluminados para cada músico da banda, duas passarelas e uma plataforma central.
Como sempre, parece que a cantora presta a atenção em cada detalhe do que acontece no palco. Dos passos de seus 16 dançarinos aos movimentos da banda, tudo tem o rigor que até mesmo sua turnê anterior, “Joanne World Tour”, considerada mais simples, também tinha.
Com “Chromatica Ball”, Lady Gaga está em forma de novo. Se em “Joanne” a artista, até então conhecida por ser a mais esquisita das cantoras do pop, suavizou sua estética, em “Chromatica” ela voltou às suas origens maximalistas, futuristas e disco. “Gaga Chromatica Ball” reflete tudo isso.
Alguns truques da cantora já estão bem batidos, como o discurso sobre amor-próprio e a introdução de piano antes de “Born This Way”. Ainda assim, as performances emocionam e dão a impressão de que estamos assistindo a alguém que coloca tudo de si em sua arte.
As partes mais calmas, como em “Shallow”, do filme “Nasce uma Estrela”, no quarto ato, são tão capazes de conquistar quanto as mais dançantes e animadas -especialmente pela voz poderosa da cantora, que ganha destaque em momentos mais suaves do show.
Como também é típico, Gaga não deixa de se pronunciar sobre as questões enfrentadas pelo momento delicado de polarização política que os Estados Unidos vivem -e viviam ainda mais na época em que o show foi gravado.
Ela dedica “Angel Down” a Trayvon Martin, que morreu vítima de violência policial em 2012, e elogia a força da população LGBTQIA+ e com a luta por direitos reprodutivos. “A América precisa ser curada. Há mudanças que precisam ser feitas”, diz.
Comparado registros documentais da cantora, como aquele da turnê “Lady Gaga Presents the Monster Ball Tour at Madison Square Garden” e o filme “Gaga: Five Foot Two”, “Gaga Chromatica Ball” é o mais direto e sucinto.
Sem imagens de backstage e entrevistas, retrata somente o show, do início ao fim, mas o resultado revela mais sobre a artista do que qualquer filme confessional poderia fazer. Fica claro que sua paixão e vocação é, acima de tudo, performar. Ao final do show, Gaga recebe mais de três minutos de aplausos. Ela sabe que seu lugar na música pop está intocado.