'É inevitável passar por mutações', diz cantor Daniel sobre novas vertentes do sertanejo
Por Anahi Martinho/ Folha Press em 03/05/2024 às 18:46
Aos 55 anos de idade, Daniel se prepara para encarar mais uma perna de sua turnê pelo Brasil em comemoração aos 40 anos de carreira. Após uma pausa nos shows para cuidar das cordas vocais, ele retorna aos palcos nesta sexta-feira (3), em que se comemora o Dia do Sertanejo.
A turnê traz o repertório que Daniel gravou nas décadas de 1980 e 1990 com o antigo parceiro musical, João Paulo, morto em 1997 em um acidente automobilístico. Em entrevista à reportagem, Daniel analisou a evolução da música sertaneja nesses 40 anos e falou sobre os desafios do gênero no mercado atual.
“Quando surgimos, estavam em alta três duplas: Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano e Chitãozinho e Xororó. Viemos na mesma leva de Chrystian e Ralf e Gian e Giovani. Aquele foi um momento primordial da música sertaneja. Foi uma virada de página”, relembra.
Agora, o sertanejo passa por novas transformações. Nos últimos 40 anos, o gênero se desdobrou em vertentes como o feminejo, o funknejo, o queernejo, o sertanejo universitário, o arrocha e outros subgêneros. Para Daniel, as evoluções são naturais em qualquer gênero musical.
“É inevitável passar por mutações e absorver novas tendências, principalmente em um mundo com tanta tecnologia e em que tudo evolui muito rápido”, analisa. “A tradição não se perdeu, pelo contrário: o sertanejo está vivo, está aceso. Aquilo que é realmente bem feito, feito com veracidade, prevalece.”
“Vejo gente nova com muito potencial, artistas que surgiram trazendo estilos diferentes e outros contextos, outras levadas. Tudo o que é feito com dedicação, carinho, amor e respeito, não tem como dar errado”, afirma.
‘A música é universal’
O mix com outros gêneros musicais é recebido com entusiasmo por Daniel, que estreou recentemente o projeto “Duas Vozes”, em que gravou parcerias com Gloria Groove, Iza, Priscilla Alcântara, Seu Jorge e Vitor Kley.
“Ainda quero continuar esse projeto porque me traz oportunidade de estar diante de estilos diferentes, públicos diferentes e levar nossa música para além das fronteiras. A música é universal”, diz ele, que também luta para manter o estilo em evidência.
“Sobreviver em um mercado tão turbulento, com tantos nomes diferentes, tantos personagens, é muito difícil. Mas o fato de estarmos aqui até hoje é um sinal de que, de alguma forma, a nossa música ainda causa efeito nas pessoas, trazendo algo de positivo. E essa é a minha missão”, conta.
‘Senti que tudo tinha acabado’
Em 1997, quando perdeu João Paulo, Daniel só pensava em desistir da música. Hoje, ele se emociona todas as vezes que sobe no palco com Jéssica Reis, filha do falecido parceiro, para cantar “Minha Estrela Perdida”. Jéssica tinha 5 anos quando perdeu o pai e hoje é veterinária e cantora.
“Poder cantar com ela é surreal, é a melhor coisa que eu poderia pedir. Foi a primeira pessoa que eu convidei. Não tem ninguém melhor que ela para estar comigo no palco, representando o pai e vendo de perto o legado que ele deixou. É um grande presente para todos nós”, afirma.
“Quando tudo aconteceu e da forma como foi, naquele momento eu só senti vontade de parar, de abortar tudo”, lembra. “Com o passar do tempo, com o amor que eu tenho pelo que eu faço e o incentivo de amigos e fãs, acabei criando forças e estou até hoje consciente da minha missão, que é trazer algo de positivo para as pessoas através da arte. E lá se vão 40 anos de história dando continuidade a tudo o que a gente começou junto.”