Deep Purple e Journey mostram melhor e pior do gênero no Rock in Rio
Por Laura Lewer/Folhapress em 16/09/2024 às 08:34
Não dava para botar muita fé no show que Journey faria no palco principal do Rock in Rio no começo da noite deste domingo (15).
Perdido entre atrações enérgicas, como o Planet Hemp, e celebradas, como o Evanescence, o grupo conhecido por uma música muito grande, “Don’t Stop Believin'”, ficou por isso mesmo -um one (no máximo two) hit wonder que deixou o palco Mundo com a energia bem baixa a maior parte do tempo.
A banda de San Francisco, que comemora cinco décadas de sua criação, até que tentou, com uma camiseta do Brasil e uma bandeira do Cruzeiro no palco, e o público até que bateu palmas e deu uns gritinhos. Mas nem os longos solos de guitarra do único membro original remanescente, Neal Schon, foram suficientes para criar um clima de palco Mundo.
Existem alguns motivos possíveis para isso. Talvez seja porque o Journey já tenha perdido quase todos os integrantes originais, virando uma espécie de cover de si próprio, ou por ser conhecido por brigas entre integrantes por causa de dinheiro e política.
O som irregular, exceção no palco Mundo nesta edição, certamente não ajudou, e o festival parece ter superestimado a atração.
O grupo concentrou a maior parte de seu sucesso comercial entre as décadas de 1970 e 1980, quando Steve Perry ainda era vocalista, e foram esses momentos os mais reconhecidos da apresentação, que viu seu único pico de emoção nas duas músicas finais.
“Anyway You Want It” e o maior hit, “Don’t Stop Believin'”, eleita pela Forbes a melhor música de todos os tempos por seu sucesso nas paradas, foram as canções derradeiras, levantando bem mais o público e seus celulares -mas talvez não o bastante para deixar só boas memórias.
Mais tarde, o Deep Purple, contemporâneo do Journey, provocou em um palco menor, o Sunset, o efeito exatamente contrário.
Antes mesmo do show começar, o público, devidamente aquecido pelos hits apoteóticos do Evanescence, celebrava a banda como se eles nem fossem os habitués que são do Brasil -já vieram para cá mais de uma dezena de vezes.
Uma das pioneiras do heavy metal e do hard rock, a banda começou a apresentação com “Highway Star” com o microfone de Ian Gillan demorando a engatar, mas a partir de “Bit on the Side” já deu tudo certo, e o grupo de 1968 encarou um público atento.
Foram muitos solos de bateria e guitarra, -incluindo os do excelente blues “Lazy”, com um longo momento dedicado à gaita de Gillan que fez a plateia vibrar-, e trechos mais densos, como o de “When a Blind Man Cries”, dedicada às pessoas mais pobres.
A banda também criou trechos engraçadinhos, como quando o tecladista Don Airey tirou onda no instrumento e o deixou tocando sozinho enquanto um garçom servia vinho para ele.
Na tríade final, montada em cima dos hits “Smoke on the Water”, “Hush” e “Black Night”, todas lançadas entre 1968 e 1972, o público se dividia entre curtir os sucessos e andar em direção ao show principal da noite, do Avenged Sevenfold, no palco onde o Journey tocou mais cedo.
Para a parte do público do Rock in Rio que ainda cultiva a nostalgia infundada de que o festival não tem mais rock -especialmente quando tantas outras coisas existem- o dia dedicado ao gênero com os exemplos dados por Journey e Deep Purple foi uma lição: mais do que o tipo de música, o que importa num festival é entregar um bom show.