02/01/2025

Bianca Gismonti celebra os 70 anos do pai Egberto Gismonti em álbum

Por Gustavo Sampaio em 02/01/2025 às 11:00

Divulgação
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Bianca Gismonti lançou o álbum Gismonti 70, no qual comemora os 70 anos do pai e pianista Egberto Gismonti. A cantora produziu o disco com o baixista Antonio Porto e o baterista Julio Falavigna.

Esse é o terceiro álbum do trio, que já tem mais um engatilhado para 2025. Em conversa com o Santa Portal, Bianca contou sobre este novo projeto, além de ter detalhado a produção do álbum, que começou sete anos atrás. Confira a entrevista na íntegra abaixo.

Como foi o processo de produção do álbum?

Comecei o projeto em 2017, quando meu pai ia completar 70 anos, em dezembro. Em 2018, como a gente fazia todo ano, ou quase a cada dois anos, a gente fez turnê na Europa e na Ásia. E aí gravamos o disco em 2018 na Hungria, em dois dias, foi muito rápido.

Foi assim no disco anterior também. A gente já estava em janeiro na Índia, na turnê da Índia. Em fevereiro saímos da Índia e iríamos em março para a Europa, só que veio a pandemia. Então, obviamente, percebemos que não dava para ir para a Europa. Ficamos esperando, ao longo daquele ano, aquela situação que todo mundo viveu. Em 2021, engravidei e também era ainda resquício de pandemia.

Até que em 2022 a gente, de fato, viu que não valia a pena arriscar um bebê, uma criança e tal, com os resquícios de pandemia. Aí começamos a fazer a mixagem remotamente. Fizemos a parte toda de áudio, de mixagem, porque a gravação foi muito rápida.

A gente fez 2022 e 2023 e só esse ano que finalmente fiz a parte gráfica, que era do jeito que queria, que era tirar as fotos na casa do meu pai, que é um verdadeiro museu da própria vida. É uma casa muito linda que morei até os 18 anos. Então, finalmente terminou. E aí pronto. Quando fiz a foto, foi muito rápido. Fiz a foto, a gente fez a arte em dois meses e terminou o projeto.

A produção do álbum surgiu há sete anos, depois de todo esse tempo, a homenagem saiu com mais emoção e significado?

Totalmente. Tem uma coisa interessante. Porque assim, na verdade, o que acontece? 2017 fiz o show, né? Fiz o espetáculo Gismonti 70, em homenagem ao meu pai. Depois decidi gravar no final de 2018. Ele, inclusive, participou antes de gravar. Ele deu várias dicas. A gente saiu várias vezes na casa dele e tal. Aí continuei com esse show.

Então, na verdade, o Gismonti 70 é um show que tenho desde 2017. Ele é um show que, claro, fui incluindo músicas, tanto que brinco que o Gismonti 80 deve sair.

E pretendo que saia quando ele fizer 80 anos, realmente. Porque é muita música, comecei a tocar com meu pai com 15 anos. Então tem muita música que amo. Eu amo o repertório dele, claro.

É um show que amo e que as pessoas obviamente têm um vínculo muito forte, né? Pra quem acompanha a carreira dele há muito tempo, ouvir as músicas, e claro, a filha tocando tem todo um significado muito forte mesmo. Não só porque ele é meu pai, mas porque comecei tocando com ele. Existe uma hereditariedade real, de realmente ter vivido muitos anos com ele tocando.

E foi interessante essa sua pergunta. Na verdade, quando você lança, está um pouco cansado do disco. E é muito interessante. Porque quando saiu, acordei às 4 horas. E falei: ‘ah, quero escutar o disco’. Claro que já conheço o disco, mas escutei o disco como se fosse você, um ouvinte qualquer, porque ele tem um frescor de alguém que não tá vivendo ele.

Qual seu momento favorito e mais emotivo da homenagem?

Olha, acho que tem muitos momentos favoritos. Os dois discos que a gente ensaiou o dia inteiro na casa dele foi bem lindo. Era um repertório que a gente já tinha amadurecido, fizemos muitos arranjos, muito diferente do original. Alguns são parecidos com a fonte, mas a maioria são arranjos muito diferentes.

Tudo que faço, mostro pro meu pai. Meu pai é muito sincero, é o anti-pai babão, muito verdadeiro. Quando ele não gosta, ele fala, critica. Sou muito acostumada a esse jeito dele. Então foi muito maravilhoso. Porque apresentar o repertório dele pra ele e ele ter total liberdade de comentar. Meu pai não tem esses pudores. Porque é filha, nem porque nada. 

Então foram dois dias muito emocionantes. Porque meu pai, obviamente, conhece a obra dele como ninguém. E ele é muito criativo.

Independente de ser a música dele, ele embarca nas ideias dos outros com muita facilidade. Então vai dando ideias e ideias e eu gravei. Gravei os dois ensaios inteiros.

Logo depois, a gente fez turnês na Europa e Ásia. Foram mais ou menos um mês ou dois de turnê. Fui ouvindo as gravações dos ensaios ao longo da viagem e anotando as dicas do meu pai.

Qual é o próximo passo do Gismonti 70? Terá uma turnê pelo Brasil?

O Gismonti 70 é um show xodó. É muito interessante que me rememoro quando comecei a tocar com o meu pai. É o mesmo tipo de afeto do público. Como tem muitas músicas do meu pai que amo, eu vou colocando músicas dele e adicionando canções que fiz em homenagem a ele. Ao longo dos anos vou fazendo várias músicas em homenagem.

Porque no disco quis gravar só as músicas dele, mas tenho muitas músicas em homenagem a ele. Então é um show que chama o Gismonti 70 para o fundo, é um show permanente. Com certeza com o disco a gente vai fazendo o que vem.

E em paralelo a isso, hoje em dia o Antônio Porto não está mais tocando com a gente. Já tem um ano que quem está tocando com a gente é o Fernando Pepes, um baixista gaúcho. E a gente vai gravar em março.

Na verdade, o próximo disco do trio não tem nada a ver com o Gismonti 70. É um disco chamado Tapeçaria, que é todo autoral. Assim como os outros discos que gravei, são todos de composições minhas, incluindo uma música que fiz em homenagem ao meu pai também dentro desse disco. Em resumo, a gente hoje em dia está com três shows.

A gente tem o show do Tapeçaria, que é esse repertório novo. O show Gismonti 70, que é um show permanente. E o Percutante, que também vou gravar o que vem, esse todo de MPB.

Eles são arranjos que fiz durante a pandemia para músicas muito conhecidas do repertório brasileiro cantado, mas com arranjos totalmente diferentes.

E esse que você vai gravar daqui três meses tem previsão para sair quando?

Acho que em 2025 mesmo. O Percutante acho que não, mas o Tapeçaria sim.

Quais os três álbuns que mais te influenciaram como artista?

The Köln Concert, do Keith Jarrett. Isso aí não tenho o que dizer. Do meu pai, claro, tem vários, né? Mas vou com Infância. O terceiro, talvez, Urubu, do Tom Jobim.

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